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Everaldo
Everaldo

            Sexta feira , vinte para as seis da manhã, Everaldo olha para o espelho determinado  e diz friamente:

            - Hoje vou fazer tudo que nunca fiz, mas que sempre tive vontade de fazer.

            Logo após isso, escova os dentes, faz a barba, toma um gole de café preto e sai.

            - Estou cansado, dormi pouco, e ainda por cima vou ter que pegar ônibus lotado. Bem... acho que hoje vou de táxi hoje - pegou a carteira abriu e olhou; tinha apenas os documentos, o vale transporte e dez reais. Coçou a cabeça e foi caminhando cabisbaixa para o ponto de ônibus.

            Dois ônibus que faziam o itinerário que  o levava ao serviço passaram, com tanta gente que alguns se penduravam nas portas impedindo o fechamento das portas, por isso sequer  pararam no ponto. Meia hora depois passa um que estava um pouco mais vazio, não que não estivesse cheio, mas pelo menos Everaldo conseguiu entrar neste. Após pagar a passagem e rodar a catraca espreme-se entre as pessoas para ficar perto da porta, porém o máximo que consegue é ficar a três bancos de distancia dessa. Quando chega perto de seu ponto dá sinal, tenta sair apertando-se entre as pessoas mas o veículo continua o trajeto e ele só consegue descer um ponto depois.

            Após descer olha para o relógio com muita raiva. Pensa em correr para chegar a tempo, desiste quando se por conta de que já se passava cinco minutos do horário que ele deveria estar na empresa.

            - Aquele almofadinha do meu chefe vai falar um monte pra mim, juro que um dia ainda mando ele praquele lugar. Agüentar o que ele me fala pela merreca que eu ganho , hunf... Se ele me desse um aumento eu comprava um carro e num tinha esse problema com horário.

            Quando Everaldo entra na repartição, dá de cara com o chefe que contraindo as sobrancelhas para baixo e exprimindo os lábios diz:

            - Atrasado de novo  seu Everaldo, quantas vezes eu vou ter que ter chamar a atenção por causa de horário. Sua batata já ta assando, uma hora me canso e te mando embora, ai  você não vai mais  precisar  chegar em horário nenhum.

            Pensou em responder a altura para seu chefe mas como precisava do emprego...  

- Desculpa chefe...

            - Sai já  da minha frente e comece a trabalhar que eu num te pago para ficar conversando.

            Everaldo foi para sua mesa, ligou o computador, colocou o head na orelha e sentou-se e começou seu serviço de atendimento a reclamações.

            “Quando vocês vão para de me enrolar e me dar uma resposta”

            “ Vocês são um bando de pilantras só vendem porcaria”

            “ Você pensa que está falando com quem rapazinho”

            Aquilo era agonizante, somente o computador a sua frente, nenhum contato visual com ninguém, ouvia reclamações o dia inteiro e tinha que um pouco mais de paciência que Jó pois tudo era gravado. Cada hora naquele serviço parecia infindável, privado de sua liberdade  verbal e corporal. Quanto tempo estava ali, já tinha perdido as conta, um ano ou dois, o mesmo serviço a mesma rotina, aquilo aniquilava a sua auto-estima, mas também pagava suas contas.

            Faltavam vinte minutos para o final do expediente.

            - Beleza daqui a pouco eu vou pra casa tomar um banho e depois vou beber cerveja com meus amigos, afinal de contas amanhã eu num trabalho, além disso faz um bom tempo que não troco uma idéias com meus amigos a ultima vez foi...

            - Everaldo!

            - Sim chefe.

            - Preciso que você venha amanhã para ajudar o pessoal com os estoques, sabe como é fim de ano o serviço aumenta e precisamos sempre estar preparados, posso contar com você.

            Everaldo indignado apenas balançava a cabeça afirmativamente.

            - Tudo bem então, vê se chega no horário amanhã.

            Daí a pouco Everaldo sai do serviço e vai para o ponto de ônibus que para variar estava cheio.

            Às sete da noite, chega exausto em casa. Morava em um quarto de pensão, era até confortável mas pequeno. Toma um banho e depois vai jantar.

 Sentá-se no sofá e liga a televisão para assistir o jornal das oito. Por um acaso começa a mexer na agenda de seu celular,  viu que tinha nomes ali que não tinha contato a meses, pensou até em ligar para alguém mas... não tinha créditos.Everaldo assistiu também uma novela que começou depois do telejornal,  aparentemente as cenas da novela mostraram-se para ele mais interessante que as notícias do jornal.

            Cansado dorme no sofá. Acorda no dia seguinte as cinco da manhã com o barulho do despertador do seu celular. Toma um banho veste-se.

 Everaldo olha para o espelho determinado  e diz friamente:

            - Hoje vou fazer tudo que nunca fiz, mas que sempre tive vontade de fazer.